quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Minhas histórias, suas saudades



  Eu ainda não deixei daquela mania de criança. Acabava de ler um livro e lá estava eu querendo ser o personagem forte e imortal. O lençol virava minha capa e a vassoura o meu cavalo. Da cabeça saía os relances das cenas construídos pela minha mente durante a leitura, e a história não acabava. Ela simplesmente continuava como se eu reescrevesse mentalmente.

E nesses anos me deparei com livros muito bem escritos. Uns tão nostálgicos abarrotados de melancolias, que me estremeço de amargura ao olhar a capa. Outros, tão sexy e perturbadores que espio de vez em quando, e mais: biografias, fantasias, aventuras, terror, autoajuda,... Mas sempre existem aqueles que temos um quê, especial.  E guardo cada exemplar com muito carinho.
E mergulhado nas fantasias intelectualmente elaboradas descobri o verdadeiro sentido da escrita. Elas são muito mais que letras amontoadas. É o retrato de uma inspiração, o resultado de uma criação espetacular.

E lendo esses livros ainda me deito na cama e fico a pensar por horas a fio. Fico imaginando os rostos dos personagens, suas manias, suas tristezas e medos. Alguns tão parecidos comigo. Cheios de desejos proibidos. Com os mesmos olhos assustados, com as mesmas dores no coração, com os mesmos sonhos impossíveis.

Talvez seja um autorretrato do escritor. Talvez, muitos nem notam a gaiola em seu peito, que prende um leão esbravejando, querendo ser livre. Querendo ser original. Sem ter que ser o tal engomadinho que a sociedade moderna exige.

E ali, naquelas linhas, ele pode ser ele de verdade.

Tudo acontece do jeito que se planeja, cada palavra. Ele é seu próprio criador. O único lugar seguro, aconchegante é ali no refugio da sua meditação, quente e confortável. Onde se vê um pedacinho do paraíso. Um mundo perfeito onde os olhos saboreiam, mas os braços não alcançam.

Alguém pode ler isso e achar que é magia de criança. Mas escrever é um ato mágico. Sempre achei que na ficção um raro milagre tem que acontecer. Um ser humano é criado com tinta, papel e imaginação. Eu não sou JRR Toukien, porém, eu já presenciei um raro milagre. Qualquer escritor pode confirmar que dentro da posição de maior graça e felicidade as palavras não saem de você, mas através de você.  

E durante as noites de insônias muitas coisas boas aconteceram no segredo das minhas especulações, tive muita sorte estar acordado para pegá-las.

E no fim, os homens vão para a sepultura. Deixam seu maior sonho esvair pela garganta da cova faminta. Mas o livro, muito mais que papel e tinta. O livro, o maior legado, é a forma de se eternizar nesse mundo e deixar um pedacinho de nós para alguém especial sentir saudades.



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